No Rio
A presidente Dilma Rousseff e a ecologista Marina Silva, as duas virtuais candidatas que, segundo as pesquisas, conseguem mais votos para as eleições presidenciais do ano que vem, se envolveram em um duelo verbal sobre a situação da economia brasileira que foi considerado o tiro de largada da campanha eleitoral.
Ambas convencidas de que afinal será a economia que poderá decidir as eleições, as duas abriram uma polêmica sobre o tema. Silva falou do Recife, território do socialista Eduardo Campos, a cujo partido, PSB, a ambientalista acabou se afiliando para poder disputar as eleições, por não ter sido oficializado a tempo seu novo partido, Rede Sustentabilidade. Rousseff respondeu de Minas Gerais, território do candidato de oposição Aécio Neves, do PSDB.
Silva abriu fogo de uma plateia a portas fechadas organizada pelo Banco Credit Suisse. Depois de ter reconhecido que tanto o ex-presidente do PSDB Fernando Henrique Cardoso como o ex-presidente do Partido dos Trabalhadores, Lula da Silva, haviam deixado "marca", disse que o legado de Rousseff é o "retrocesso" em política econômica.
A pré-candidata acusou o governo de Rousseff de tratar a economia com "negligência" por causa de uma certa "ansiedade política". Ela mesma acusada de se interessar mais pelos problemas ambientais do que pelos outros graves problemas do país, Silva quis deixar claro diante dos empresários que, caso chegue à presidência, respeitará os três pilares que trouxeram êxito à economia e permitiram o crescimento econômico: o superávit primário, o câmbio flutuante da moeda e as metas de inflação, que, segundo ela, estão altas.
Rousseff não se calou e diante de outra plateia de cerca de 400 empresários respondeu a sua adversária, deixando claro que, apesar da "crise internacional", o país continuará "cumprindo as metas de inflação", que são de 4,5% com uma margem máxima de 6,5%. A presidente destacou que essa meta "não foi superada nos últimos dez anos" e explicou aos empresários: "Nosso compromisso com o rigor fiscal não se alterou, como demonstra o fato de ter passado pela maior crise da história desde 1929 com nossas metas de endividamento sob rígido controle".
A ecologista indagou a Rousseff sobre o tema espinhoso das ajudas do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) que, segundo ela, são utilizadas "de maneira inadequada" em benefício de "alguns ungidos que são os que recebem o dinheiro". E lembrou os US$ 4 bilhões só para o empresário Eike Batista, "praticamente atirados na lata de lixo", afirmou.
Depois comentou: "Imaginem todo esse dinheiro oferecido a jovens empreendedores, a quantidade de oportunidades que poderíamos ter em termos de geração de novos empregos e novos negócios".
Para Silva, a gestão de Rousseff retrocedeu na área da sustentabilidade, não só ambiental como "também econômica". A presidente destacou que além disso seu governo trabalhou para "reduzir os custos da indústria", reduzindo por exemplo os custos da energia e a redução de impostos de alguns produtos depois de ter confessado que todos podem aspirar à Presidência e que ela "não se sente superior" a ninguém. Também se dirigiu aos candidatos que pretendem concorrer nas próximas presidenciais que seu chefe de imagem, João Santana, havia definido como "anões antropófagos". Todos eles, disse Rousseff, "deverão estudar mais" e "conhecer melhor os problemas do Brasil".
A ecologista respondeu à presidente: "Ela deu um conselho de professora. É um bom conselho, porque aprender sempre é positivo. O problema são aqueles que creem que não precisam mais aprender e só sabem ensinar".
Na terça-feira (15), Rousseff respondeu a Silva através de sua conta no Twitter: "Creio que nunca deixamos de aprender. Aprendemos sempre, com os outros, estudando. Entretanto, não creio naquele soberbos que creem que nasceram sabendo e que já aprenderam tudo", e acrescentou: "Eu serei sempre uma aluna do mundo".
Ontem, Rousseff também havia lembrado que ela "já é presidente" e que, portanto, sua função agora é só governar, que o resto virá depois. Marina, com suas frases enigmáticas, já havia afirmado que "ninguém está de posse da verdade", já que, segundo ela, "a verdade está entre nós". Por enquanto é uma disputa entre Davi e Golias. Rousseff, considerada uma das mulheres mais poderosas do mundo, ganharia hoje de todos os seus adversários em um segundo turno, já que goza de forte popularidade.
Entretanto, são duas mulheres de caráter, ambas com reconhecimento mundial. Rousseff por ter sabido abrigar a difícil herança do carismático Lula da Silva, e Marina Silva, reconhecida internacionalmente pela defesa de uma economia sustentável, capaz de criar riqueza sem destruir o planeta.
Duas mulheres que "honram o Brasil" pela intransigência de ambas na defesa dos valores de liberdade em uma das maiores economias e democracias do mundo em desenvolvimento. E ambas ex-ministras e amigas do único que hoje ganharia as eleições no primeiro turno: o guru Lula, que já advertiu que não se apresentará e que fará campanha eleitoral a favor de Rousseff, como se ele "fosse o candidato".
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